Escritos
Coisas do arco-da-nova


quarta-feira, abril 24, 2002  

Juventude

Éramos os dois eternos, com o Mundo todo pela frente
Teu e meu, largo, novinho em folha, uma coisa boa,
Tão manso como as ondas, mais branco do que a espuma.
Lembras-te? As horas que passámos a fazer coisa nenhuma!
Às vezes apenas olhando o Tejo, vendo os barcos na corrente
Ouvindo, surdos ambos, aquele silêncio que ressoa.
Tu brilhavas, feliz, de roupa branca, e dizias "que lindo que isto é"
As ondas pequeninas, o ar azul, e eu sorria apenas de te ver
Tão jovem, oh, que garotos éramos, tu e eu, ambos a derreter
Radiantes, cheios de saúde, tão completos de amor, de fé.
A meio da tarde íamos a um café, e fingíamos que era para comer.
Se não havia dinheiro, como sempre acontecia, pedia-se um rissol;
Eu dava-te o camarão, toma lá, e tu fingias que me ias morder o dedo.
Ríamos como doidos, ficava tudo a olhar para nós, olha que dois
Havia até quem se risse mas era mais nosso o melhor do riso
Como se o tempo estivesse ali parado, sem antes nem depois
Para sempre assim apaixonados, eternamente aves do Paraíso.



enviado por C | 1:29 da manhã


quarta-feira, abril 10, 2002  

Oração

Avé Maria
Gratia plena
O Senhor é convosco
Bendita sois vós
Entre as mulheres
E entre os homens também
Rogai por mim, pecador.
Bendito é o fruto
De vosso ventre
Jesus.
Santa Maria
Mãe de Deus
Perdoai-me as minhas ofensas
E ajudai-me a perdoar
A quem me tem ofendido
Seja feita a vossa vontade
Assim na Terra como no céu
Não me deixeis cair em tentação
E livrai-me deste mal.
Amén.





enviado por C | 10:42 da tarde


terça-feira, abril 09, 2002  

Palavras, parole, parolo

Palavras
Palavras
Palavras.
Palavras, palavras, palavras
Palavras, palavras, palavras
Palavras, palavras, palavras
Palavras, palavras, palavras
Palavras, palavras, palavras
Parlavas palavras?
Então, silêncio.




enviado por C | 10:36 da tarde


segunda-feira, abril 01, 2002  

A besta

A mais violenta das armas
A mais difícil das provações
O mais ardente dos infernos
A mais simples das palavras
Afinal a que menos se aguenta
É a flecha que se atravessa
Na garganta no peito na cabeça
Como abrindo caminho
Força bruta e fera
Rasga corta decepa
Afinal apenas dor
Uma palavra limpa e pura
Violência sangue mágoa
Palavra seta faca
Abrindo rasgando esmagando
Como lágrima de cristal fervendo
Minério em fusão
Entre o coque e a forma
Equívoco absolutamente brilhante
Com volutas de fumo e gás.
É assim, pura e casta
Até parece tímida
Terrível
Ataca e foge, a maldita,
Desaparece na madrugada
Chiando como o riso da hiena.
Afinal a Besta também dorme,
Incoerente.


enviado por C | 1:25 da manhã
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